Guiné-Bissau – José Carlos Sanca
Categoria: Escultura de Madeira
José Carlos Sanca, mais conhecido por Zé Carlos, começou a trabalhar em madeira no ano de 1988, com 13 anos de idade, seguindo a tradição comunitária dos escultores de madeira da tabanca Co, sector Bula, região de Cachéu – Guiné Bissau.
Pouco a pouco foi observando como os mais velhos, sábios e experientes pegavam nas ferramentas forjadas e adaptadas rusticamente, tais como, machados para esculpir madeira de Pau de Sangue (Pterocarpus rohrii), e aplicavam talhadas firmes e concisas para alcançar as almejadas formas que caracterizavam as figuras místicas ou mais realísticas do seu quotidiano comunitário.
Partindo de um sentido de escultura em madeira mais tradicional, tanto nos temas, formas e técnicas utilizadas, José Carlos Sanca sentiu a necessidade de definir um percurso e uma identidade própria, com expressões e composições novas que o libertassem da tradição, que o fizessem explorar a sua criatividade na talha e escultura da madeira, levando-o a um novo patamar.
Sanca tem a ousadia de pegar nas formas humanas e nos rostos guineenses, fundindo-os em diálogos de superação, afecto e confronto, num só corpo, num só enlaçado de formas distorcidas e convulsas nos dilemas que as assolam continuamente.
Sob o avermelhado da madeira tratada e polida e a madeira natural, crua e inacabada, existe um diálogo entre a perfeição e as imperfeições da terra, onde parece que a plenitude da condição humana do homem, mulher e criança guineenses encontra-se sempre por satisfazer, numa visão surrealista, de grito e de revolta, por tudo aquilo pelo qual o povo se sente privado e pela condição humana pela qual tem constantemente de lutar.
Esta expressão de escultura surrealista de José Carlos Sanca demonstra sempre o dilema entre o sonho e a realidade do povo guineense, entre os contornos mais perfeitos e as fissuras inacabadas, que se sustenta num único pé de equilíbrio e esperança para o seu povo.